sexta-feira, 29 de maio de 2009

DISCURSO INAUGURAL DE ESTANDE

Discurso proferido pelo eng° Dilson Carlos Rehem, filho mais velho do cel. Almerindo, na inauguração de estande de tiro ao alvo - Brasilia/DF, 30/09/1983

Exm° Sr. General Darcy Lázaro, senhores atiradores, senhora atiradora, meus senhores, minhas senhoras,

A nossa casa está honrada com a presença dos senhores. Esta reunião tem como principal objetivo a inauguração do Estande de Tiro ao Alvo Cel. Almerindo Rehem.

Esta homenagem que estamos prestando é ao meu pai, o meu coronel. Este homem nasceu em Aribicé, município de Euclides da Cunha, na Bahia, em 26/05/1902. A sua infância passou nesta longínqua área, distante 600 km de Salvador, sem ter as mínimas facilidades de se alfabetizar. Neste período da sua vida, muitas vezes ia à caça com badogue, ou estilingue, tentando, ao abater o pássaro, amenizar a fome que lhe corroia as entranhas. Muitas vezes me afirmou: "Tive que comer terra!". Conseguiu sobreviver, e aos 14 anos, o seu irmão, Oscar, trouxe-o para a capital.

Chegando em Salvador, analfabeto, aumentou a idade e sentou praça na briosa Pollícia Militar da Bahia. Desejava vencer e para isso estava disposto a sacrifícios. Imediatamente matriculou-se numa escola e me relatava nos bons diálogos que mantínhamos: "Fui aprender a ler numa escola, no bairro da Barra, com crianças e uma professora, já sem paciência, que sempre utilizava, quando eu errava as letras enormes que me apontava, a palmatória. Sentia, ao receber o impacto, a dor física do castigo e a dor moral, das vaias das crianças, os meus colegas. Inicialmente, esta horrivel situação foi penosa, antes de me conscientizar que estava enfrentando um desafio. Venci! Grande alegria! Aprendi a ler".

Como soldado raso, fez todos os trabalhos de todo recruta. Conseguiu se transferir, quando cabo, para a Banda de Música.

Contava-me: "Soube que estavam abertas as inscrições para a Banda, candidatei-me e ingressei. O maestro encheu-se de antipatia à primeira vista, e logo entregou-me um instrumento que jamais tinha visto em minha vida, o oboé, completando com voz irritada e autoritária: 'aprenda a tocar'. Não fui feliz nestes instantes da minha carreira, o maestro punha-me sempre à frente, e, em todas as vezes que passava por mim, propositadamente, pisava nas minhas botinas. Deixei a banda".

Já quando sargento, comandou a Guarda do Palácio, na época do governador Góes Calmon. Cumprindo com orgulho e abnegação os seus deveres, além do seu bonito porte, voz vibrante e bastante grossa, chamou a atenção do governador, e este o promoveu a oficial, por merecimento.

Falava-me: "Soube da notícia por um colega quando estava num bonde, ao voltar para casa. A minha alegria era imensa, dava o grande salto, tornara-me oficial. Foi talves a primeira e grande satisfação da minha vida, transbordava de felicidade. Passado alguns dias, já fardado como tenente, pude devolver o mesmo tratamento recebido por um sargento veterano, que sempre, ao encontrar-me sentado em um dos tres primeiros bancos do bonde, mandava eu procurar o meu lugar. Esse sargento, ao ver-me, já como seu superior, arregalou os olhos, levantou-se e bateu continência. Respondi e disse a ele baixinho: procure o seu lugar. Após esse fato tornamo-nos bons amigos".

Na sua carreira militar assumiu todos os cargos e funções, fazendo sempre marcar a sua presença no seu desempenho com capacidade, e o que é mais importante, considerado sempre justo, capaz e honesto. Comandou a Guarda Civil, comandou a Polícia Militar, foi chefe da Casa Militar em tres períodos diversos: com o interventor Landulfo Alves, e com os governadores Antonio Balbino e Lomanto Júnior. Teve sempre como objetivo na sua vida fazer amigos. Logrou êxito!

Até hoje, ao dizer meu nome - e isto acontece com toda a família - perguntam sempre: "você é parente do cel. Almerindo Rehem?" Ao responder "sou filho", logo o tratamento se modifica, e com expressão bondosa, querendo ajudar, exclamam: "Foi um grande amigo meu! O que você deseja?"

Transmitiu à nossa família a sua filosofia de vida e nos ensinou: "A palavra dada é para ser honrada. Não é necessário documento assinado para cumprirmos compromissos. Faça amigos, tê-los será a sua maior riqueza. Seja justo, seja honesto, e enfrente os problemas."

Este homem, cel. Almerindo Rehem, no dizer de muitos, um militar e um diplomata, me enche de orgulho e prazer ao sempre afirmar "sou seu filho!". Ele já nos deixou. Partiu desde 1969.

Em 30 de novembro de 1932 estava casado com minha mãe, Leonor Sampaio Rehem. Hoje, quando se comemora os 51 anos de casamento, data feliz e de alegria, inauguro, para as competições de ar comprimido, entre amigos, o Estande Cel. Almerindo Rehem, como uma homenagem e agradecimento, pelos ensinamentos de vida e educação que proporcionou a toda a sua família.

Muito obrigado meus senhores.

Um comentário:

  1. é muito bonito esse discurso do eng Dilson.. a historia do coronel realmente nos enche de orgulho..
    Foi, sem sombra de dúvidas, um grande homem, um exemplo pra todos nós.

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